Somos todos prisioneiros dos rótulos. Fulano é gordo. Cicrano é velho. Aquele é desempregado. E assim caminha a humanidade, sem tempo nem interesse…
Por André Trigueiro
Para os amantes do rótulo, o uso da expressão “ambientalista” presta-se muitas vezes para identificar quem incomoda: o “radical”, que se posiciona contra o consumismo; o “xiita”, que denuncia o desenvolvimento sem sustentabilidade; o “pessimista”, que mais parece um dos cavaleiros do apocalipse, quando lembra que o mundo segue na direção errada ao aumentar a poluição da água, do solo e do ar; o “alarmista”, que critica um modelo de civilização “ecologicamente predatório, socialmente injusto e politicamente perverso”, segundo relatório entregue pelo governo brasileiro à ONU durante a Rio-92.
Enquanto ambientalista, confesso meu receio de ser confundido com mais um rótulo. Isso porque ser ambientalista remete justamente a um exercício na direção contrária ao reducionismo do rótulo: enquanto o rótulo exprime uma ideia fechada, restrita, invariavelmente preconceituosa, o ambientalista de verdade é instigado a perceber a todo instante como o universo se revela de forma interligada e interdependente. Essa teia de relações que se estende ao infinito aumenta nossa responsabilidade sobre tudo o que fazemos ou deixamos de fazer. Se a vida fosse um filme, deixaríamos de ser meros coadjuvantes para assumir a condição de protagonistas. Sim, todos somos importantes no concerto da vida, porque tudo se comunica, tudo se relaciona, numa interação contínua. Todos somos, em certa medida, responsáveis por todos.
Como se vê, o cárcere do rótulo aprisiona o mais amplo dos conceitos. Ser ambientalista é exercitar a visão holística (vocábulo derivado do grego hólos – total, inteiro, completo), que amplia o foco e nos projeta no imenso tabuleiro da vida, onde cada peça tem a sua importância e a sua função para o bom funcionamento de toda a estrutura. Estamos todos juntos no mesmo barco. Somos todos tripulantes da mesma nave azulada perdida no espaço.
Ser ambientalista talvez seja remar contra a maré. Para os que tenham a disposição de fazê-lo, um pequeno estímulo: remar contra a maré faz bem à saúde.
André Trigueiro
www.mundosustentavel.com.br
Jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro Mundo Sustentável – Abrindo espaço na mídia para um planeta em transformação, Coordenador Editorial e um dos autores do livro Meio Ambiente no século XXI. É repórter da TV Globo, editor-chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News, comentarista da Rádio CBN.