As crianças aprendem a mentir desde muito pequenas para conseguir vantagens.
Içami Tiba, psiquiatra e educador, escreveu Pais e Educadores de Alta Performance, Quem Ama Educa! e mais 28 livros.
Um bebê pode chorar de mentira para atrair a presença da mãe ou cuidadora, principalmente quando não quer dormir. É uma estratégia de ação facilmente desmascarada e se a cuidadora não entrar neste jogo, a bebê acaba se acomodando e torna-se mais saudável, pois dorme melhor e amplia o seu leque de relacionamentos.
Ao ser deixada na escola, esta pode chorar e se agarrar no pescoço da mãe como se fosse morrer se a mãe a deixasse lá. Some-se a este choro da criança a agonia de uma mãe que não aguenta ouvir choros dos filhos. Está armada a bomba que dificulta a independentização dos filhos. Chora o filho, chora a mãe. O choro da mãe reforça o choro do filho. Este impasse tem que ser superado primeiro pela mãe ao soltar o seu filho, pois geralmente dentro da escolinha ele para de chorar e brinca feliz da vida com outras crianças. Nesta fase a criança pode ainda não ter a maturidade para perceber o sofrimento da cuidadora, mas, sem dúvida, percebeu a vantagem de chorar e conseguir o que quer: não sair do colo da cuidadora. Passa a ser mentira quando ela chora desesperadamente sem derramar uma lágrima.
Mentiras mais complexas começam a surgir quando o filhinho vai para a escolinha. Isso porque o leque de relacionamentos aumenta muito tanto com adultos quanto com seus pares.
Na mentira, vários são os sinais emitidos: não olha nos olhos; encolhe o corpo; abaixa a cabeça; esconde as mãos que tremem; movimenta-se pouco; coloca-se à distância; olha para fora como se procurasse saída; demora para responder; vai sempre aumentando as informações; treme, cora, transpira frio; vacila nas palavras; fala mais baixo e para dentro; voz fica mais aguda; boca seca; engole seco etc.
Quando um filho justifica muito o que não fez, esqueceu, errou ou perdeu, se os pais olharem atentamente nos olhos dele poderão perceber que algo está muito diferente do que sempre fez. Se a intuição diz que algo está sendo omitido, exagerado ou distorcido os pais não devem dizer que o filho está mentindo, mas pedir mais detalhes. Para tentar convencer os pais de que está falando a verdade, o filho dá cada vez mais detalhes ou novidades, infantilizados ou muito elaborados.
A mentira envolve alguns aspectos que têm que ser levados em conta quando ela é avaliada: O que é uma mentira? A criança que mente; A quem a criança mente; Maneiras que se mente; Conteúdos da mentira e Intenções da mentira.
O cuidado que os adultos têm que tomar quando se lida com crianças é diferenciar a mentira do exagero e da omissão.
Pais extremamente severos e bravos desenvolvem filhos medrosos. Por medo uma criança pode mentir para se poupar das reações violentas dos pais. Uma mentira de autoproteção. Pode omitir fatos dos irmãos para também poupá-los dos pais. Quanto mais os pais exigirem que falem a verdade, mais os filhos se fecharão e embutirão suas fantasias e imaginações, prejudicando o desenvolvimento psicológico e amadurecimento deles. A educação é ensinar os filhos a separarem o fato de suas imaginações e fantasias.