Os Doutores da Alegria atuam junto a crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais da área da saúde.
Para a maioria das pessoas, hospital é lugar de dor e de grandes expectativas, aonde se vai contra a vontade e motivado por problemas diversos. É um local onde o riso e as alegrias ficam do lado de fora; normalmente vai ao hospital quem busca alívio para o sofrimento. Mas nem sempre é assim. A mudança do clima pesado pode vir através do riso, que tem o poder de transformar o ambiente.
A iniciativa da ONG Doutores da Alegria em levar o trabalho de artistas profissionais e especializados na arte do palhaço aos hospitais é pioneira no Brasil. Sua implantação foi feita em 1991, pelo ator Wellington Nogueira, inspirado pelo programa que integrou o “Clown Care Unit”, de Nova Iorque, idealizado por Michael Christensen, cinco anos antes.
Os Doutores da Alegria atuam junto a crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais de saúde. A essência do trabalho é a utilização da paródia do palhaço que brinca de ser médico no hospital, tendo como referência a alegria e o lado saudável das crianças e colaborando para a transformação do ambiente em que se inserem.
Como seria um hospital se o médico errasse a porta do quarto e entrasse no armário?
A “visita” é sempre um grande jogo: o palhaço faz de conta que é médico e a criança dá forma ao espetáculo. A intenção não é distrair a criança da realidade na qual ela está inserida, e sim fazer daquele encontro um momento de diversão e cumplicidade. O programa é rotineiro – duas vezes por semana, seis horas por dia – e o trabalho em parceria é fundamental tanto entre a dupla de palhaços quanto entre a dupla e a criança. Os familiares e os profissionais de saúde também entram no jogo.
O programa é gratuito para os hospitais e todos os hospitais atendidos são públicos.
Nos seus 33 anos de trajetória foram realizadas mais de um milhão de visitas, com um elenco de cerca de 40 palhaços profissionais (não voluntários) e possui unidades em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Recife.
No Rio de Janeiro e em São Paulo, mantém um programa que levam variadas formas de arte, como circo, música e poesia, a pacientes de hospitais públicos, já tendo contemplado mais de 30 mil pessoas; e, no país inteiro, a ONG articula uma rede de iniciativas semelhantes.
Os Doutores da Alegria desempenham, por meio de sua Escola, um papel referencial na pesquisa da linguagem do palhaço e na formação de jovens, artistas profissionais e interessados – cerca de 180 jovens artistas já se formaram em um programa com duração de três anos. Outras atividades artísticas, como peças teatrais e as rodas besteirológicas, são apresentadas ao público em geral. Mantida por doações de pessoas e empresas, a organização é reconhecida em todo o país por seu profissionalismo e atuação inovadora.
Possui a certificação de utilidade pública nas esferas federal, estadual e municipal. Recebeu o Prêmio Criança da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, foi incluída três vezes na lista das 100 melhores práticas globais da divisão Habitat da Organização das Nações Unidas. Recebeu ainda o Prêmio Cultura e Saúde, concedido em 2010 e em 2009 pelo Programa Cultura Viva, iniciativa conjunta dos Ministérios da Cultura e Saúde. Recentemente, recebeu a certificação do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS.
Falar em Doutores da Alegria também é falar de uma intensa produção artística, que compartilha com a sociedade o resultado dos encontros com as crianças, pais, médicos e funcionários dos hospitais. Uma produção que vai desde os Blocos Miolo e Miolinho Mole, que agitam as ruas e hospitais do Recife no Carnaval, até espetáculos teatrais referendados pela crítica e que caíram nas graças do público, como “Senhor Dodói¨, “Rodas Besteirológicas” e “Midnight Clowns”.
Ao completar 33 anos, a ONG assume o desafio de ampliar sua missão, fomentando novas manifestações artísticas em hospitais para públicos como adultos, idosos e funcionários; formando novos profissionais e aperfeiçoando a arte do palhaço em hospitais e junto a outros públicos; e criação de um fórum que discuta ética e qualidade das relações da arte do palhaço nos hospitais.
“Este novo olhar sobre nossa missão é uma conseqüência natural da maneira como encaramos o trabalho: algo novo que gera um conhecimento importante para o ser humano e que precisa ser desvendado, organizado e disseminado. Conhecimento, quanto mais você aprofunda, mais fascinante se torna e atrai o interesse de mais gente. Investimos em pesquisa para saber os resultados e o alcance dos investimentos feitos em nosso trabalho. Daí os desdobramentos em oficinas, livros, peças, palestras e mais uma série de ações para dar acesso à experiência da alegria. Aprofundar, desvendar, organizar e disseminar”, afirma Wellington Nogueira, fundador e coordenador geral dos Doutores da Alegria.