Por Marcio Atalla
“É preciso mudar os hábitos dentro de casa, começando pelos mais velhos e passando aos mais novos.”
O bebe quando nasce não tem vontades, gostos, preferências. Ele está pronto para receber de seus pais os ensinamentos e hábitos que terá na vida, que condizem com os vividos em cada lar. Acima de tudo, ele será o grande observador de como “as coisas” funcionam ao seu redor e vai aprender muito mais com o que vê, do que com o que ouve. Isso significa dizer que discursos, conselhos, ordens, ou qualquer outra coisa que seus pais apenas falem, mas não pratiquem, não terão grande valor.
Se na casa, o pai grita com a mãe, assim a criança vai aprender a lidar com os outros. Se na casa, as pessoas são desorganizadas e não guardam seus pertences, assim a criança irá fazer com seus objetos também. Se na casa, as pessoas comem mal e não praticam atividade física, mantem uma rotina sedentária e passam horas em frente à televisão e ao computador, assim a criança irá passar seu tempo também.
Desde a década de 1970 até os dias de hoje, o número de crianças obesas aumentou em dez vezes. Já são quase 50% de crianças com sobrepeso ou com obesidade. E a principal causa é o sedentarismo, a inatividade física, que é na verdade o grande mal dos tempos atuais, em esfera internacional. Um estudo feito pela Universidade de Glasgow, na Escócia, mostrou que já aos três anos de idade, muitas crianças praticam menos atividades físicas do que deveriam e correm o risco de se tornarem adultos obesos.
O Brasil é o país com maior número de crianças sedentárias da América Latina. Apenas uma em cada cinco crianças brasileiras faz o mínimo de movimento necessário, que seria uma hora de atividade física por dia, cinco vezes na semana. Esse estilo de vida tem reflexo não apenas no peso, mas principalmente em doenças crônicas, que antes eram de adultos, como diabetes, pressão alta e tantas outras. Já temos 3,5 milhões de crianças e adolescentes com hipertensão arterial no país.
Por isso, é preciso que as famílias entendam que as crianças estão prontas para aprender o que é importante, o que é certo e errado, o que é bom e ruim, e acima de tudo aprender a ter limites. Limites quando o assunto for jogos eletrônicos, iphone, batatas fritas, doces, horas de sono… Os adolescentes de hoje não dormem enquanto tiverem baterias em seus celulares e joguinhos. A quantidade e a qualidade do sono ficam comprometidas e isso atrapalha na saúde, no crescimento e ajuda também no aumento de peso. Junto ao sedentarismo, o caminho é um só: problemas de saúde, que só tendem a aumentar com o avanço da idade.
É preciso mudar os hábitos dentro de casa, começando pelos mais velhos e passando aos mais novos. Mudar atitudes pequenas, mas que no fim do dia fazem muita diferença, e com o passar dos anos promovem saúde, boa autoestima, disposição, alegria e qualidade de vida. São trocas quase que banais na alimentação, como preferir um bife grelhado a um empanado, por exemplo. Ou um sanduiche de queijo a uma coxinha de frango. Eu poderia listar agora centenas de trocas, mas se aprendermos a pensar antes de comer, escolher antes de “devorar”, e ter a consciência de que estamos ingerindo alimentos que vão construir nossa saúde, e não estamos apenas matando a fome, preocupados só com o paladar, vamos aprender que o que faz bem, também é gostoso. São trocas no caminho de casa, quando procuramos andar mais a pé ou trocar o elevador pelas escadas. Trocas de lazer, em que abrimos mão da terceira novela do dia para fazer algum esporte. É com pequenas mudanças aqui e ali, de forma natural e sem radicalismos que vamos construindo uma nova forma de ser e viver. E vamos passando isso de geração pra geração. É agora a hora de mudar.
Marcio Atalla
Professor de Educação Física, com especialização em Treinamento de Alto Rendimento, e pós-graduado em Nutrição pela USP. Autor de diversos livros, tornou-se conhecido em todo o Brasil como colunista da Rádio CBN e apresentador do Medida Certa da Rede Globo.