Quando as agressões na escola afetam a vida e a sociedade
Por Vagner Apinhanesi
Chega a hora de seu filho ir à escola. Você vai ao quarto dele, e ele diz que está com dor de estômago. Compassivamente, você o deixa em casa, prepara um chazinho para ver se a dor passa e, depois da melhora do amado paciente, esquece a preocupação. Num outro belo dia, no mesmo horário, a dor é na cabeça. Mais uma vez, a compaixão toma conta do seu coração, e lá se foi mais um dia de aula. E assim as doenças vão se sucedendo dia a dia: diarreia, vômitos, febre.
De repente, chega o boletim escolar. O desempenho do seu filho piorou, e ele já não tem mais a mesma vontade de ir à escola, nem o capricho nos trabalhos escolares. Está na hora de analisar melhor o caso, pois pode ser mais sério do que uma inocente preguiça ou a comum pressa de terminar os deveres para brincar com os amigos. Seu filho pode ser mais uma vítima do bullying.
Bullying são agressões (físicas, verbais ou psicológicas) repetitivas, intencionais, sem motivo evidente, causadas por um ou mais estudantes contra outro que não apresenta resistência. Geralmente, o alvo é o aluno com aparência física que apresenta alguma particularidade, tímido, introvertido, passivo e que tem dificuldades, principalmente, para se defender. Já os autores, geralmente, são indivíduos que sempre se metem em confusão, em desentendimento, gostam de satirizar e ridicularizar os colegas e têm a necessidade de dominar, chamar a atenção para si, mas isso não é uma regra.
“São aqueles alunos que querem ser populares na escola, desejam ser aceitos em um determinado grupo, só que não conseguem conquistar esse ingresso por meios legais, digamos assim, e aí vão usar a dominação e outros subterfúgios”, explica a pesquisadora do bullying escolar e consultora educacional Cléo Fante.
A preocupação dos especialistas, sobretudo da área de Psicologia, se dá por causa das consequências do bullying, as quais não incidem apenas no processo de aprendizagem, mas também na sociabilização e, especialmente, na questão comportamental das crianças, cujas sequelas podem acompanhá-las por toda a vida, caso não haja uma interrupção, um tratamento.
Como identificar
Segundo Cléo Fante, os pais podem perceber se o filho é vítima desse tipo de violência com o surgimento de alguns indícios. Se a criança é extrovertida, alegre, interage facilmente e, de repente, muda de comportamento, se retrai, torna-se introvertida, triste, aflita, agressiva, é necessária uma observação mais atenta.
A mesma conduta deve ser adotada em relação ao rendimento escolar: se houver uma queda brusca, não apenas em uma ou duas matérias, o que é normal acontecer, mas na desenvoltura escolar como um todo, desinteresse, evasão e até mesmo reprovação.
“Como pais, podemos observar quanto ao aspecto da criança, não apenas no comportamento, mas também no desleixo com as atividades escolares, a falta de prazer, o pedido para mudar de escola sem uma justificativa convincente, a diminuição da assiduidade. Outros sinais muito frequentes são os sintomas psicossomáticos. No momento de ir para a escola, a criança apresenta dor de cabeça, dor de estômago, febre, diarreia, vômitos. Esses sintomas podem levar a um diagnóstico de bullying, desde que sejam frequentes”, detalha a especialista.
Faz-se necessário ressaltar que para ser caracterizada uma suspeita de bullying, todos esses sintomas psicossomáticos ou mudanças comportamentais devem ser frequentes, não pontuais, e se agravam ao longo do tempo.
“É uma vitimização que a criança está somatizando e adoecendo. Esses sintomas podem causar doenças muito sérias, como a depressão, as alergias, as fobias, uma série de problemas de ordem inclusive psiquiátrica, ou até mesmo levar ao suicídio”, adverte a professora Cléo Fante.
Para identificar o bullying ou evitar que suas consequências sejam mais graves, é importante que os pais estejam sempre presentes e atentos. Ao notarem qualquer alteração significativa no comportamento dos filhos, devem ir à escola e procurar saber como eles estão se portando, quais as causas da queda do rendimento escolar, do desinteresse. Estimular o revide ou ir para a escola ameaçar o agressor são erros comuns que a família comete e que geram ainda mais violência.
“É bom salientar que nem tudo que acontece na escola é bullying. O que estamos vendo no Brasil e em outros países é uma generalização. Tudo virou bullying, todo mundo sabe e fala sobre o assunto, quando na verdade não é tão simples assim. É bullying quando a violência não tem motivo, é uma implicância gratuita, planejada, com ações deliberadas e repetitivas que têm o objetivo de causar danos. Quando o indivíduo se defende, quando é uma ação pontual, quando os envolvidos brigaram ou discutiram e um deles vai para a Internet e ofende o outro, isso não é bullying, porque teve uma ação geradora”, explica Cléo Fante.
Após tomarem todos os cuidados para a identificação do bullying e seja confirmado o caso, os pais devem agir imediatamente. Dependendo da gravidade, é recomendado procurar um profissional, geralmente da área da psicologia, que fará um diagnóstico e encaminhará para um médico psiquiatra ou pediatra. Isso varia de acordo com o caso
A conscientização e o empenho dos diversos setores da sociedade são essenciais para atitudes que proporcionem um futuro melhor, onde a paz e o respeito sejam compartilhados por todos os cidadãos.
A professora, pesquisadora do bullying e consultora educacional Cléo Fante é autora dos livros Fenômeno bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz (Verus Editora, 2005) e, em conjunto com José Augusto Pedra, Bullying Escolar – Perguntas e respostas (Artmed, 2008). Para entrar em contato com a professora Cléo Fante, envie e-mail para cleofante@terra.com.br.