A nossa condição humana é de solidão. Por mais que queiramos nos cercar de pessoas, as decisões mais importantes são sempre tomadas na mais profunda solidão.
Max Gehringer
Há duas maneiras de encarar a timidez. Começando pelo lado sombrio, a palavra timidez veio do latim timere, “ter medo”. O tímido é alguém com receio. Receio do que? A lista é enorme: de ser criticado em público; de não ser o melhor; de não atingir as expectativas dos outros (principalmente dos pais); de tomar decisões que possam ser mal interpretadas; ou, simplesmente, de ouvir um ‘não’. Ou seja, a solução para os males do tímido não está nele, está nos outros. E os outros, ao invés de colaborar, ainda acham divertido chamar o tímido de acanhado, encabulado, envergonhado, enrustido, esses rótulos que só ajudam a piorar a situação.
Assim, a defesa natural do tímido é se isolar e se calar, para evitar o contato – e o confronto – com outras pessoas. E aí o tímido começa a ficar altamente emocional em suas reações, criando um mundo particular em que a regra básica é “Ninguém me entende”. Quanto mais isolado o tímido se torna, menos confiança vai conseguir adquirir em si mesmo. Essa insegurança levará gradativamente à dificuldade para decidir o que fazer. O passo seguinte é a perda da autoestima. E, daí em diante, tudo só vai ladeira abaixo.
Logo, o importante é deixar a timidez de lado? Seria, se fosse assim tão fácil. Porque o tímido não escolheu ser tímido. Ele se tornou tímido. Se alguém escarafunchar seu passado, vai encontrar algum fato que talvez ajude a explicar essa retração, como, por exemplo, críticas ou pressões para ser o melhor em tudo; ou uma mudança brusca de cidade ou de condição de vida; ou pais muito afetivos, mas dados à superproteção.
Agora, a parte boa. Timidez não é uma doença, é uma característica de personalidade. Não existe uma norma dizendo que crianças tímidas irão se transformar em adultos tímidos. E tampouco a timidez vai necessariamente gerar insatisfação pessoal: existe muita gente tímida com grande autoestima. Muitas pessoas famosas, milionárias, inteligentes e corajosas foram, ou são, tímidas. Esse povo, simplesmente, aprendeu a usar a timidez a seu favor, por conta própria ou através de ajuda especializada.
O melhor tímido é aquele que sabe que é tímido, que aceita o fato de ser tímido, e que faz da timidez a sua vantagem competitiva. Porque qualquer pessoa normal prefere mil vezes trabalhar com alguém tímido, porém atencioso e prestativo, do que com alguém auto suficiente, que tem resposta para tudo e despreza as opiniões alheias.
Pessoas tímidas tendem a ser mais criativas do que a média. Mas elas têm dentro de si, ao mesmo tempo, o acelerador que lhes permitiria contribuir com grandes sugestões e o freio que as impede de simplesmente levantar a mão em uma reunião, para fazer uma pergunta.
Dentro de cada tímido, há um artista esperando a hora de brilhar. E dentro de cada artista, há um tímido que encontrou a válvula de escape. O único empecilho para o tímido é ele mesmo, quando se propõe a deixar de lado o possível no curto prazo, para tentar fazer planos inatingíveis de longo prazo. No fundo, os tímidos são os melhores entre nós, mas boa parte de nós ainda não percebeu isso. E boa parte deles, também não.
Max Gehringer
É comentarista da Rádio CBN e do Fantástico, na TV Globo. Administrador de empresas, foi presidente da Pepsi-Cola Engarrafadora e da Pullman/Santista Alimentos. Conhecido por seus artigos em revistas como Época, Exame eVocê S/A, é autor de vários livros – dentre eles, Comédia corporativa, Emprego de A a Z e Pergunte ao Max – e um dos palestrantes mais requisitados do país.