Rossandro Klinjey
A percepção da Paz como Cultura foi um conceito criado por Federico Mahyor Zaragoza, político espanhol, que foi diretor-geral da UNESCO de 1987 a 1999. Durante a Conferência de Yamoussoukro, na Costa do Marfim, as discussões ali fomentadas culminaram com o surgimento da expressão Cultura de Paz.
Como sabemos, cada povo tem que lidar, ao seu tempo e ao seu modo, com seu ethos ideológico, aqui compreendido como uma síntese dos seus costumes e de suas características de grupo que o diferencia de outros. Entender e vivenciar esse ethos, possibilita um plano de reconciliação não só com os seus iguais, mas também com outras sociedades e povos. Acontece que essa reconciliação não advém apenas da simples vontade política como pensam alguns.
Muitas vezes se imaginou que a construção da paz poderia surgir em gabinetes, onde acordos selados entre políticos garantiriam a paz entre povos em conflito. Qual de nós já não viu uma reunião de algum presidente americano com líderes de outras nações, assinando acordos de paz na Casa Branca, seguida de apertos de mãos transmitidos ao vivo para o mudo todo, mas que em nada resultaram?
O caráter conflitivo das sociedades não é algo inato, pelo contrário, ele é construído por processos históricos que reafirmam a discriminação e a intolerância. Por isso, Nelson Mandela asseverava que: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”, ensinados, enfim, a pacificar.
A paz só pode ser construída se entendida não como um acordo, como uma disposição, mas sim como uma cultura a ser construída em substituição à cultura de violência, desrespeito e intolerância que ainda predomina no mundo atual.
Para construirmos uma cultura de paz temos que nos lançar num desafio gigantesco, visando influenciar nossas próprias sociedades, pavimentando a estrada que levará as gerações futuras para um mundo onde a paz seja um valor do qual nenhum povo irá querer abrir mão.
Se, como diz o compositor Nando Cordel: “a paz do mundo começa em mim”, certamente temos que entender que ela termina na minha conduta com o outro. E ainda que a paz interior se constitua numa busca sem a qual nenhuma outra virá, ela não se esgota em si mesma. É preciso buscar e (re)encontrar o outro para que eu possa vivenciar a paz, promover valores de tolerância, escuta, empatia, e uma abertura sincera para reavaliar as nossas próprias suposições sobre nós mesmos e sobre os outros, até que um dia possamos amar a todos como a nós mesmos.
Rossandro Klinjey
É palestrante, escritor e psicólogo clínico. É consultor da Rede Globo em temas relacionados a comportamento, educação e família no programa Encontro com Fátima Bernardes, além de colunista da Rádio CBN.