Por Beatriz Montenegro
O uso de telas de forma exagerada e desmedida em nossa sociedade não é uma novidade, dos idosos às crianças, todos vivem os desafios de se reconectar entre si e saírem das telas. Por que as telas viciam tanto? Qual o melhor caminho para retomarmos a conexão? Como tirar meu filho da tela, após anos onde a escola, os amigos, a família, só existiam através delas?
Esses questionamentos fazem parte de todas as famílias brasileiras e antes de querer estar no caminho da retirada e do uso controlado e equilibrado, precisamos compreender suas ações no cérebro para garantir assim, que os filhos criem a habilidade do autocontrole, do equilíbrio, da responsabilidade, da atitude positiva e da inteligência emocional. Habilidades humanas e comportamentais, chamadas de Soft Skills, essenciais para a formação integral e saudável de qualquer criança.
Estudos na área da neurociência da educação, comprovam que o cérebro está totalmente formado por volta dos 20, 25 anos de idade, e que a área responsável pelo autocontrole, inicia seu processo entre 5 e 7 anos de idade. Com essas informações reforçamos a importância de toda criança e adolescente ter em casa um adulto que consiga auxiliar seu processo de desenvolvimento compreendendo seus desafios. Além deste cérebro infantil ou adolescente ainda não estar totalmente maduro, as telas possuem mecanismos que viciam, há muitos estudos e pesquisas por traz de todo desenvolvimento de jogos e redes sociais para que cada usuário se sinta cada vez mais conectado a tela e não a outros programas e passeios.
Dopamina, um neurotransmissor, que atua diretamente com a motivação e como estímulo reforçador, portanto, a liberação dele no corpo, atua no sistema de recompensa, e por isso, muitas pessoas o conectam ao prazer. Durante o uso das telas, sejam elas de qualquer natureza, celular, tablets, televisão, videogames, a liberação deste neurotransmissor acontece a cada 8 minutos, aproximadamente, revelando aqui o poder viciante que elas possuem.
Portanto, abrangendo o pode viciante que as telas possuem, com a informação de que o cérebro não está totalmente “maduro” na infância e adolescência, conseguimos entender os motivos de estarmos com tantas consequências ruins diante do uso desenfreado das telas. Médicos de diversas áreas e especialistas na educação mostram o quanto a infância vem sofrendo com isso: aumento de casos de miopia, prejuízo no desenvolvimento motor, aumento da obesidade, baixo rendimento escolar, infelicidade, depressão infantil, entre outros.
Oriento 3 caminhos para que você se reconecte com seu filho, seja ele uma criança ou um adolescente, sabendo que quanto menor, mais fácil e tranquilo será, quanto maior, mais desafiador, porém jamais impossível.
- Inicie com a conexão: se conecte ao seu filho, mesmo que a tela ainda faça parte, invista em estar junto dele, em assistir o que ele assiste, em jogar com ele, demonstre interesse genuíno por ele. A conexão é a ferramenta mais poderosa no uso equilibrado das telas, porém ela é construída diariamente com os nossos filhos, não é como um wi-fi, que uma vez estabelecido, fica sempre salvo em sua rede.
- Crie com seu filho combinados para a família, e não apenas para ele. Exemplo: na refeição, vamos todos deixar o celular no quarto; ou analise o tempo de uso de cada membro da família e combinem juntos uma meta de diminuição; ou aos domingos faremos um passeio no parque e iremos todos sem celular…
- Assuma a sua autorresponsabilidade diante do vício do seu filho, não foi ele quem se viciou. Somos nós, mães, pais, adultos, que presenteamos os nossos filhos com esses aparelhos e que deixamos a conexão de lado, para fazermos outras tarefas. A criança, ou o adolescente, não são nem responsáveis e nem culpados por isso. Quando mudamos a nossa mentalidade, conseguimos enxergar além e de verdade verificarmos qual vazio emocional, as telas estão preenchendo.
Beatriz Montenegro
É pedagoga, Neuropsicopedagoga e Educadora Parental pelo API (Certificado Internacional de Apego Seguro). É fundadora da Comunidade Conexão Materna, um grupo de mães que se encontram de forma online para se fortalecerem e refletirem sobre educação, filhos e desenvolvimento. Idealizadora dos cursos: Desafio do Brincar e Kit Sobrevivência: Rotina Saudável, cursos, cujo foco é o estabelecimento de uma relação saudável entre pais e filhos. www.instagram.com/biamontenegro.oficial