Respeitar a noite de sono é o primeiro passo para um excelente dia. Quem vara madrugadas insone, prejudica o corpo e a mente e aumenta o contingente dos que vivem bocejando.
Por Gabriela Cupani
Respeitar a noite de sono é o primeiro passo para um excelente dia. Quem vara madrugadas insone, prejudica o corpo e a mente e aumenta o contingente dos que vivem bocejando.
Se você está nesse time em ascensão e o seu descanso é um privilégio de fim de semana, fique de olhos abertos: estudos provam que o sono é fundamental para manter a disposição.
As últimas pesquisas confirmam seu papel na memória. Na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, a conclusão é de que não se pode desprezar nenhum minuto de sono depois de um dia cheio de novos aprendizados. Só o cérebro adormecido fixa as informações recém-chegadas. Portanto, quem reclama dos estudos que não rendem ou das oportunidades perdidas na reunião com o chefe deve cair na cama, fechar os olhos e relaxar.
Quando o dia fica curto, a solução comum é cortar as horas de cama. Mas então o que se ganha é agressividade e falhas de atenção. Esses primeiros sintomas elevam os riscos de acidentes. Por trás das explosões do ônibus espacial americano Challenger e da usina de Chernobyl, na antiga União Soviética, existia gente caindo pelas tabelas. O.k., a maioria dos insones — ainda bem, porque não são poucos — escapa das tragédias. Mas não foge dos problemas físicos.
Afinal, durante o sono as células se regeneram, as glândulas secretam hormônios, a mente se recupera. “Sua falta pode comprometer vários sistemas, como o digestivo, o cardiovascular e o imunológico”, diz o neurologista Luciano Ribeiro Pinto Júnior, do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Para a Medicina chinesa, a principal vítima é o fígado. “Entre 11 da noite e 3 da manhã, ele precisa do repouso para eliminar toxinas”, diz o clínico paulista Marcelo Jovchelevich, adepto dessa corrente milenar. O médico Jou Eel Jia, também de São Paulo, alerta: “A sobrecarga de impulsos nervosos em quem fica muito tempo acordado pode gerar várias doenças”.
Guarde esta!
- Se você não dormir direito hoje, amanhã terá esquecido tudo o que leu aqui.
- O sono age nos arquivos cerebrais, principalmente nas primeiras 24 horas depois do aprendizado de algo novo, segundo os americanos de Harvard.
- As informações mais importantes captadas ao longo do dia são gravadas temporariamente no hipocampo.
- É uma memória de curto prazo. No sono, dados selecionados como essenciais viram proteínas em várias regiões da massa cinzenta. É a memória de longo prazo. O resto é apagado.
Cara amarrada
Sem sono, a atividade cerebral diminui. O processo leva a alterações cognitivas e de humor, comprometendo a criatividade, a atenção, a memória e o equilíbrio.
Ossos e músculos em baixa
Cerca de 70% do hormônio do crescimento é secretado pela hipófise no sono profundo. “Crianças que dormem mal não ganham peso e altura adequadamente”, conta o neurologista Rubens Reimão, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Já nos adultos, sem essa produção noturna o esqueleto não se renova nem os músculos mantêm o vigor.
Elo com o câncer
A melatonina — hormônio que a glândula pineal, bem no meio da massa cinzenta, secreta na ausência de luz — inibiria células cancerosas nas mamas, segundo cientistas dinamarqueses. Eles observaram que trabalhadoras noturnas, depois de seis meses trocando a noite pelo dia, têm 50% mais chances de ter a doença.
Feito um diabético
Quem dorme mal pode ficar com níveis de insulina tão baixos quanto os de certos diabéticos. Outra vez o cortisol tem culpa no pedaço. Ele é o antagonista natural do hormônio liberado pelo pâncreas, competindo com suas moléculas na corrente sangüínea. Resultado: estudiosos da Universidade de Chicago apostam que sobra glicose no organismo de quem fecha os olhos para o problema da insônia.
Mais estresse
A falta de sono altera o ritmo de secreção do cortisol, hormônio fabricado pelas glândulas suprarenais. Isso provoca o mesmíssimo resultado físico de viver sob tensão constante. De nada adianta passar o dia sem esquentar a cabeça se, à noite, você troca os sonhos por uma sessão coruja na tevê. Para o corpo, pode dar na mesma. Os prejuízos crescem como uma bola de neve porque, depois, o próprio cortisol em alta irá dificultar o adormecer. Sem contar que ele abate o sistema de defesa no sangue.
Uma boa noite de sono depende de um bom dia
Dormir bem não significa desmaiar de cansaço. Os especialistas, hoje, chegam a um consenso que faz a maior diferença: “É preciso estar bem para dormir bem e acordar bem”, resume Ademir Baptista Silva. “Mais do que a quantidade de sono, é a qualidade dele que importa”, reforça Rubens Reimão.
Avalie se suas noites estão sendo reparadoras ou não. Note se você acorda recuperado e se não desperta com qualquer barulhinho no meio da madrugada. O número de horas dormidas nem sempre é uma resposta precisa. Até porque o tempo de sono necessário varia: tem gente que fica bem dormindo cinco horas, outros são incapazes de sorrir de manhã com menos de dez horas na cama.
A sonolência diurna não é algo desprezível — ela pode ser sinal de algum distúrbio ou de doenças como hipotireoidismo, diabete, insuficiência hepática e diversos tipos de infecção. Mas, antes de pensar em tudo isso, reveja seus hábitos. É bem provável que o segredo para ganhar pique consista — curiosamente — em levar uma vida muito menos agitada.
Cuidados simples garantem o descanso
- Corte estimulantes como café e chá preto depois do anoitecer.
- Ajuste o relógio biológico dormindo e acordando todos os dias no mesmo horário.
- Evite esportes e exercícios perto da hora de se deitar porque eles nos deixam mais alertas.
- Seu quarto deve ser silencioso, escuro e com temperatura agradável.
- Não exagere no jantar e dê algumas horas para a digestão antes de cair nos lençóis porque ela praticamente para enquanto você dorme.
- Não assista tevê no quarto. Ela apresenta muitos estímulos visuais e sonoros. E a programação influencia o horário de dormir.
- O maior desafio: afaste a ansiedade e os sentimentos depressivos.
Não engula essa saída
Ninguém dorme melhor chamando o sono com remédios. Lançados nos anos 1960, barbitúricos e benzodiazepínicos induzem o indivíduo a fechar os olhos, mas ele não irá atingir um reparador sono profundo.
Além disso, tais drogas provocam, isso sim, dependência física e psicológica. Versões mais modernas, é verdade, não modificam tanto a qualidade do sono, mas sua ação, de uma a duas horas, acaba bem antes de o dia raiar. “O pior é que os remédios nunca tratam a causa do problema”, lamenta o médico Ribeiro Pinto Júnior.
Conheça os vilões que mais tiram o sono
Insônia: comum em muitas pessoas, suas causas vão de problemas com o fuso horário até depressão.
Distúrbios respiratórios: dois exemplos deste problema são o ronco e a apneia. Nesta, a pessoa acorda várias vezes por não conseguir respirar.
Narcolepsia: o indivíduo tem surtos que podem fazê-lo pegar no sono em qualquer instante do dia, mesmo que ele tenha dormido bem durante a noite.
Distúrbios de movimentos: um exemplo é a síndrome das pernas inquietas. A pessoa, sem ter controle, fica a noite inteira chutando os lençóis e, claro, tanta agitação não deixa ninguém repousar direito.