Diálogos e reflexão são alguns dos caminhos para entender o comportamento agressivo e modificá-lo
Texto Adriana Carvalho
Quando os filhos adolescentes têm repetidas atitudes de agressão física ou verbal, é hora de ligar o sinal de alerta. A agressividade é o sintoma de que algo pode não estar indo bem na condução da educação dada pelos pais ou de que os filhos estão passando por conflitos pessoais para os quais necessitam de ajuda. Segundo Quézia Bombonatto, psicopedagoga e presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), a agressividade é uma das formas de comunicação que as pessoas têm para expressar sentimentos e desejos. “Não é a maneira mais correta, mas talvez seja a única forma que o filho aprendeu a usar nos momentos de angústia, ansiedade e frustração”. Cabe aos pais procurar entender as causas do comportamento agressivo do filho, por meio da aproximação e do diálogo, estabelecer limites ao jovem e procurar mostrar a ele que existem outras maneiras de se expressar e de resolver seus problemas.
Dicas e conselhos para evitar que seu filho adolescente seja agressivo:
1 – A falta de limites pode despertar comportamentos agressivos
Embora não sejam mais crianças pequenas, os adolescentes ainda precisam de regras e limites estabelecidos pelos pais. A falta de limites é um dos fatores que pode desencadear comportamentos agressivos. Se o filho percebe que não há consequências quando agride física ou verbalmente alguém ou consegue o que quer por meio de gritos e atitudes agressivas, tenderá a repetir e a tornar cada vez mais violento seu comportamento. Quando tem uma atitude agressiva, o jovem deve ser chamado à atenção e precisa enfrentar as consequências de seus atos. Por exemplo: se depredou um equipamento da escola, deve ajudar a consertar. Se seu filho agredir alguém, ele não poderá ir à festa marcada para o fim de semana.
2 – Que outras situações podem despertar o comportamento agressivo do jovem?
A agressividade também pode estar vinculada a situações que geram estresse no adolescente. E vale ressaltar que essa é uma fase da vida muito propícia a isso, afinal o jovem está passando por uma série de mudanças físicas e psicológicas. Quer se afirmar, conquistar a independência e sofre com inseguranças de toda a espécie. Além disso, outros eventos também podem despertar sua agressividade, como a morte de alguém querido, a separação dos pais, ou um novo relacionamento amoroso do pai ou da mãe.
3 – Como ajudar o adolescente a lidar com sua agressividade?
Antes de mais nada, você precisa conhecer melhor seu filho, seus desejos, seus medos, suas angústias. “Para lidar com a situação de forma tranquila é necessário tomar consciência do problema e acolher o filho em seus sentimentos de receio, medo e angústia. Boas horas de intimidade e aconchego verdadeiro são os melhores remédios”, afirma a psicóloga Eliana de Barros Santos. Procure conversar com seu filho, interessar-se por seu universo – seus gostos musicais, seus ídolos, suas atividades – e manter um canal de diálogo e confiança para recepcionar suas opiniões e suas queixas. Ajude-o a refletir sobre a eficácia e as consequências das atitudes agressivas e mostre a ele que há outras maneiras de se expressar e resolver seus conflitos.
4 – Se os pais agem de forma agressiva, isso influencia os filhos?
Os filhos aprendem, de uma forma geral, por imitação. Por isso, é preciso atenção: muitos dos comportamentos agressivos dos pais e adultos são absorvidos e aprendidos pelas crianças e adolescentes. “É preciso que os pais revejam o seu próprio comportamento e identifiquem situações onde costumam se comportar de forma agressiva”, diz Eliana de Barros Santos, psicóloga.
5 – Jogos ou filmes violentos podem incentivar o comportamento violento?
Segundo Quézia Bombonatto, psicopedagoga e presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), jogos ou filmes violentos podem influenciar o comportamento dos filhos, mas não são os fatores que mais incentivam a agressividade. De acordo com ela, proibir simplesmente o filho de assistir ou jogar conteúdo violento não é a solução. “Não podemos proibir nossas crianças de terem uma participação na vida em sociedade, mas podemos participar e ensiná-los a refletir sobre o que é bom e o que não é tão bom nos filmes e jogos. O importante é haver diálogo e reflexão: incentivar o filho a se colocar no lugar ora do agredido, ora do agressor e fazê-la pensar sobre isso. Isso fará do futuro adulto uma pessoa mais responsável por si”, diz.
6 – Como agir no caso de agressões verbais?
As agressões verbais, embora não pareçam, podem machucar tanto quanto um soco. Por isso os adultos devem pensar nas palavras que usam com seus filhos e com outras pessoas e cobrar que os filhos também se dirijam aos outros com respeito. Lembrando que não são só os palavrões que podem ofender. A intenção, o tom de uma palavra ou de uma frase, mesmo quando não inclui um palavrão, pode machucar, e muito, os sentimentos do outro. “Há um provérbio chinês que diz: uma palavra dita é como uma flecha atirada, nunca volta atrás. Portanto, muito cuidado com o que se fala”, adverte Quézia Bombonatto, psicopedagoga e presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp).