Doutora Danielle Cardia
Dra. Danielle Cardia é Ortodontista e Ortopedista Facial
Estudos mostram que o adorno causa inflamações e até lesões que podem levar ao câncer
O crescente interesse estético e a autoconfiança cada vez mais requisitada pela “tribo dos adolescentes” fazem com que alguns jovens por volta dos seus 14 ou 15 anos procurem o adereço de um piercing em alguma parte do seu corpo. Por isso é muito comum o piercing na cavidade oral, onde o local de eleição é a língua. Aqueles que usam ou que pretendem usar precisam saber primeiramente dos riscos que estão correndo, uma vez que a mucosa da boca é bastante sensível, ao contrário da pele. Portanto, cuidados especiais devem ser tomados, pois o local é mais vulnerável a lesões.
Pesquisas mostram que em 100% dos casos investigados houve alteração dos tecidos na cavidade oral (língua). Os resultados das biópsias variaram de processos inflamatórios crônicos até lesões que podem levar ao câncer, como leucoplasias e displasias. Isso ocorre por causa do trauma constante ao “roçar” na fenda aberta para o uso do piercing. No consultório, foram observados casos de fratura dental, podendo até mesmo chegar à polpa (nervo). O problema do mau hálito é uma constante, sempre associado a feridas, alergia às joias e a infecções locais.
A literatura médica relaciona o piercing a doenças como: hepatites, esofagite, asfixia (no momento da punção-corte, a língua pode inchar, podendo até fechar a passagem do ar, dificultando a respiração) e Aids; devido à transmissão cruzada do vírus durante a instalação, resultado de técnicas precárias de esterilização.
Estudos demonstram alteração da língua, deixando-a hipotônica, alterando a posição dos dentes, ocasionando fraturas nos mesmos, além de alterações na fala e na deglutição. O trauma contínuo e de baixa intensidade provocado por um objeto estranho ao corpo como o piercing, se potencializado pelo consumo de álcool, fumo e/ou predisposição genética, pode levar ao câncer bucal.
Outro grande risco é o piercing se soltar e ser aspirado para as vias respiratórias levando a procedimentos extremos como uma broncotomia para a remoção ou, em alguns casos, uma cirurgia mais invasiva no tórax. Caso o jovem já tenha o aparato na boca, é necessário um acompanhamento clínico rigoroso para advertência e prevenção de futuros problemas. Afinal, quanto maior o tempo de uso, maiores as chances de contrair doenças e problemas associados.