A boa notícia é que nunca é tarde para tomar uma atitude, porque a autoanálise pode ser feita a qualquer hora e em qualquer lugar.
Max Gehringer
Quem de nós, um dia, não parou para fazer uma profunda autoanálise profissional? Pois é, a maioria ainda não parou, infelizmente. E quem não parou está postergando um momento crucial, o de reavaliar seus erros e acertos, para poder redirecionar a carreira enquanto ainda é tempo. A boa notícia é que nunca é tarde para tomar uma atitude, porque a autoanálise pode ser feita a qualquer hora e em qualquer lugar. Aqui e agora, por exemplo. Basta fechar os olhos, tomar fôlego e repetir — pausadamente e num tom firme de voz — as três grandes questões da vida profissional:
1) “O caminho que escolhi foi o correto?”
2) “Estou fazendo o máximo possível por minha carreira?”
3) “Por que estou falando comigo mesmo em voz alta e de olhos fechados?”
As respostas mais comuns têm sido (na mesma ordem das perguntas): “Não sei”, “Não sei” e “Não sei”. E isso é preocupante. Aliás, mais que preocupante, é indicativo de um claro sintoma de acomodação. E a acomodação vem sendo, sem nenhuma dúvida, a maior responsável pelas derrapagens profissionais. Mas há uma maneira de resolver rapidamente essa incômoda situação, e ela é mostrada a seguir. Passo a passo.
A primeira dúvida é: quantos passos? A resposta está no maior acervo de respostas do mundo, a internet. Fiz uma pesquisa rápida e descobri que há milhões de sites falando em número de passos para isso e para aquilo, e constatei algo muito importante: quanto menos passos, mais sites. “Sete passos” e “seis passos”, por exemplo, aparecem em 93 000 sites cada um. Porém, quanto mais os passos diminuem, maior é o número de sites, a saber: 136 000 para “cinco passos”, 179 000 para “quatro passos” e 365 000 para “três passos”. E isso significa exatamente o que dá a impressão de significar: todo mundo está querendo caminhar na direção certa, mas ninguém parece lá muito disposto a caminhar demais (tanto que “19 passos” só é mencionado em míseros 250 sites).
Removido o primeiro obstáculo — o caminho tem de ser curto e rápido —, vamos ao segundo: em que direção? Listei todos os sites que contêm a expressão “três passos” e pesquisei algumas palavras associadas a eles. Os resultados foram os seguintes (os números são em milhares de sites): carreira, 22; segurança, 43; sucesso, 58; dinheiro, 79. E a palavra vencedora — que aparece em nada menos que 210 000 sites — é… “ajuda”. O resultado é surpreendente? Nem tanto. A pesquisa simplesmente revela como as pessoas se sentem hoje em dia no mercado de trabalho: desamparadas. Não adianta muito ficar pensando em dinheiro, segurança ou sucesso se não houver alguém por perto disposto a nos dar uma mãozinha. E, pelo jeito, esse help anda cada vez mais escasso.Então, o panorama é bem claro: profissionais estão avidamente buscando ajuda para ganhar dinheiro e encontrar o sucesso. Em três passos. Que são os seguintes, conforme revela um dos sites pesquisados: 1) decida-se logo; 2) abra todas as frentes de oportunidades; e 3) alinhe suas prioridades.
“Na vida profissional, não existem atalhos. Quem vive procurando por eles ou acaba se perdendo ou fica marcando passo.”
Ou, então, como prega outro site: 1) crie seu networking; 2) estabeleça seu diferencial; e 3) atualize-se continuamente.
Ou, quem sabe, como sugere um terceiro site: 1) aja segundo sua emoção; 2) meça os resultados; e 3) não tenha receio de mudar de ideia.
Espere ai, que história é essa? Cada site recomenda uma coisa diferente? Pois é. Quer dizer, então, que não existe uma receita para o sucesso? Claro que existe. Quem pesquisar na internet a expressão “receita para o sucesso” encontrará nada menos que 40 000 sites com as respectivas bulas. E, o que é fundamental, 3 000 deles são em três passos.
Finalizando a pesquisa, eu descobri que há, só em língua inglesa, 8 milhões de sites que mencionam o termo “sucesso”. E aquela janelinha ao pé deles, o contador de visitas, revela que cada um desses sites já foi acessado, em média, 1 280 vezes. Ou seja, quase 10 bilhões de visitantes, mais que a população inteira do planeta! Assumindo-se que as dicas devam funcionar satisfatoriamente em, no mínimo, 20% dos casos, a gente deveria estar trombando, em cada esquina, com uma multidão de pessoas radiantes, todas com aquela cara de quem não aguenta mais fazer sucesso.
— O que você tem feito ultimamente, Tatiana?
— Sucesso, Fabrício. E você?
— Também. Já estou até ficando estressado porque nada dá errado. Aliás, para desopilar, hoje vou assistir a uma palestra, “Eu Consegui! O Insucesso em Três Passos”. Proferida por um profissional de reconhecido fracasso.
O quê? Eles ainda existem? São raríssimos, mas existem. O único problema é que o palestrante, exatamente por representar uma espécie em extinção, a dos fracassados, está se tornando o maior sucesso.
Mas, como mostra a realidade, não é bem em gente assim que esbarramos por aí. Mas ainda há uma alternativa: esquecer os devaneios e sair em busca da felicidade pessoal. Aí, tudo fica mais simples. O grande filósofo zen Thich Nhat Hahn explica como conseguir isso: por meio da meditação. Em seu livro Paz a Cada Passo, ele ensina: “Ao meditarmos caminhando ao ar livre, coordenamos nossa respiração e nossos passos. Três passos para cada inspiração e três passos para cada expiração”. Quer dizer, qualquer que seja o objetivo, ou o método adotado, ninguém vai conseguir escapar dos três passos. Caso do meu tio Venâncio, que atualmente é pescador (ou seja, meio filósofo, meio zen) e construiu toda a carreira numa só empresa. Sem tropeços e sem traumas. E me contou que sua trajetória se resumiu a — quem diria? — três passos: 1) admissão; 2) paciência; e 3) aposentadoria. Sendo que o passo mais longo foi o do meio, que levou 36 anos para ser completado. Na opinião do tio Venâncio, esse é o problema do mercado de trabalho de hoje em dia: as pessoas querem dar passos maiores que as pernas, e aí escorregam. E, enquanto ajeitava o anzol, me deu sua definição de uma caminhada progressiva e segura: “Na vida profissional, não existem atalhos. Quem vive procurando por eles ou acaba se perdendo, ou fica marcando passo”.
É comentarista da Rádio CBN e do Fantástico, na TV Globo. Administrador de empresas, foi presidente da Pepsi-Cola Engarrafadora e da Pullman/Santista Alimentos. Conhecido por seus artigos em revistas como Época, Exame e Você S/A. É autor de vários livros, dentre eles Comédia Corporativa, Emprego de A a Z e Pergunte ao Max, e um dos palestrantes mais requisitados do país.